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sábado, 14 de janeiro de 2012
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS

Polícia e racismo na USP

 Ação do PM contra o aluno foi filmada e divulgada nas redes sociais. Foto:Reprodução
Mesmo no Alabama da abominável Ku Klux Klan, nos piores tempos do racismo no século passado e início do atual nos Estados Unidos, imagino que as imagens reveladoras de racismo explícito envolvendo a atuação de policiais da PM paulista, esta semana, na repressão de estudantes no campus da USP - a mais importante universidade pública do País - teriam causado pelo menos duas consequências imediatas: mais incisiva reação factual e opinativa dos meios de comunicação (a chamada grande imprensa em especial) e mais forte e necessária indignação da sociedade.
O pior é que o silêncio ocorre não por falta de informação e provas, como poderiam alegar alguns veículos de imprensa, mas por pura apatia ou inércia. Em alguns casos, infelizmente, por cumplicidade e boa dose de aprovação mesmo do truculento comportamento policial.
Afinal, este episódio de boçalidade e revoltante abuso de autoridade foi fartamente documentado em vídeo dos mais acessados esta semana na Internet no Brasil e em inúmeros países democráticos. Neste último caso, com os inexoráveis arranhões para a "imagem modelar de democracia racial" que o turismo e os governantes gostam de vender lá fora, principalmente em festas de Ano Novo ou tempo de Carnaval.
A realidade é que o gritante atentado dentro da modelar academia de ensino superior na capital paulista - onde estive nestes primeiros dias de 2012 e de onde retornei para a Bahia na terça-feira, um dia depois da divulgação do vídeo e de suas primeiras e frágeis repercussões fora da WEB - tem passado até aqui praticamente ao largo do interesse das pautas de nossos jornais, rádios e televisões.
Mesmo em Salvador, de onde agora escrevo estas linhas de protesto, proclamada aos quatros ventos como "A Roma Negra do Brasil", a repercussão tem sido ínfima. Uma lástima e um retrocesso, tanto no terreno profissional da comunicação, como no campo das liberdades democráticas e dos direitos humanos, o que é mais estranho, grave e preocupante ainda.
O vídeo divulgado no YouTube rola na rede para quem não viu ou tenha curiosidade e interesse de ver.
Ainda assim, façamos uma breve memória do fato (como recomendava o saudoso mestre do jornalismo impresso Juarez Bahia, ex-editor nacional do Jornal do Brasil, oito vezes premiado com o Esso) para que o essencial não se perca e tudo, afinal, não se reduza a retórica inócua diante de um caso grave e que ainda cobra providências severas por parte da PM, dos governantes e, evidentemente, da justiça , diante do atentado condenável a preceito constitucional basilar.
O cenário da agressão policial é um espaço acadêmico no campus da USP, zona oeste de São Paulo. O sargento André Luiz Ferreira, acompanhado do soldado Rafael Ribeiro Fazolin, discute em um círculo de estudantes, professores e servidores da universidade (quase todos brancos, ou quase brancos) sobre uma questão ligada ao DCE. Como seria previsível em "conversa" de estudantes com policiais armados dentro do campus, a discussão fica acalorada e áspera.
De repente, não mais que de repente, o sargento André, uma espécie rechonchuda e equivocada do Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, vivido magistralmente pelo ator baiano Wagner Moura, vira-se para o único negro no grupo, um jovem de cabelo rastafári que participa da reunião na ponta oposta da sala, e pergunta : "Você é aluno desta universidade?". O rapaz responde afirmativamente. O policial então ordena : "Mostre a carteira". O estudante diz: "Tenho minha palavra".
A reação é suficiente para desencadear toda fúria do PM, que saca da arma no meio do local de discussão. Nicolas Menezes Barreto, estudante de Ciências da Natureza na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, leva tapas e é empurrado para fora, pelo militar, alheio às ponderações e protestos de alunos, professores e servidores da USP presentes. O vídeo divulgado em alguns sites, blogs e na Carta Capital (online) registra todo episódio, inclusive o momento em que o PM aponta a arma para Nicolas. É só conferir.
As providências, até aqui, são as de praxe. Declarações formais do governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, de que sua administração não tolera violência policial e atitudes flagrantemente racistas, como as verificadas esta semana no campus da USP; o afastamento preliminar e a promessa de punição dos PMs envolvidos, por parte do comando da corporação; notas de entidades de direitos humanos e raciais e protesto veemente de uma desembargadora paulista.
No mais, uma sindicância de 60 dias - tempo em geral mais que suficiente para esquecer tudo por aqui - foi aberta para apurar o caso.
Resta, talvez, uma esperança ainda para que tudo não resulte em mais impunidade no País: Que a chamada "grande imprensa" saia da passividade diante deste flagrante de racismo, que humilha e enodoa e abra suas pautas para acompanhar as "apurações" e cobrar opinativamente medidas punitivas indispensáveis e urgentes.sábado, 14 de janeiro de 2012

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