Rio Verde (MS): Expedições de cunho paleontológico desde 1942 e fósseis encontrados em Rio Verde de Mato Grosso (MS), testemunham evolução da vida na terra.
A cidade de Rio Verde de Mato Grosso, localizada na região norte de Mato Grosso do Sul, possui uma área significativa com afloramentos devonianos contendo fósseis principalmente de invertebrados marinhos, plantas e, mais raramente, fragmentos de peixes da fauna clímax e apesar disso, por muito tempo o estado careceu de estudos relacionados à paleontologia.
A quarta divisão da era Paleozoica, o Devoniano (ou Devônico) compreende o período entre 416 e 354 milhões de anos atrás, sucedendo o Siluriano e precedendo o Carbonífero. É subdividido nas épocas Devoniano Inferior (mais antiga), Médio e Superior (mais recente). Seu nome foi criado em 1830 para descrever uma sucessão de rochas em Devon, Inglaterra.
Apesar da Formação Ponta Grossa ser muito rica em fósseis de invertebrados marinhos, no estado do Mato Grosso do Sul poucas são as referências a estes grupos.
Historicamente, quatro expedições de cunho paleontológico foram realizadas nos mais de 300 km de rochas aflorantes:
(1) Em 1938 a equipe da antiga Divisão de Geologia e Mineralogia (D.G.M.), formada por Alberto I. Erichsen e A. Lofgreen parecem serem os primeiros a identificar a extensão do Devoniano para o atual território do Mato Grosso do Sul;
(2) Em 1941 outra equipe da D.G.M. na Expedição Anibal
Bastos (Anibal A. Bastos, Alberto I. Erichsen e Llewellyn Igor Price)
identificou fósseis devonianos no Ribeirão dos Cavalos, na rodovia Cuiabá-Campo
Grande;
(3) Em julho a agosto de 1947, pesquisadores da
Universidade de São Paulo (Kenneth Caster, Setembrino Petri, Octávio Barbosa) e
da Divisão de Geologia e Mineralogia do Brasil (Fernando Flávio Marques de
Almeida) coletaram fósseis também no Ribeirão dos Cavalos e no Município de Rio
Verde de Mato Grosso, pela primeira vez identificando a extensão das rochas devonianas
tão para o sul do estado do Mato Grosso;
(4) Na década de 1980, quando em duas coletas da
Expedição Orville Adalbert Derby, uma em fevereiro de 1985 (Werceny Siqueira e
José H. G. de Mello) e outra em outubro de 1986 (A. J. Boucot, N. C. Azambuja
Filho, L. P. Quadros e J. H. G. de Mello), foram revisitados poucos
afloramentos, apenas em Rio Verde de Mato Grosso.
Como resultado das expedições de 1938, Erichsen e
Lofgreen (1940) citaram a ocorrência de “Rochas do Devoniano, identificadas
paleontologicamente” até a proximidades de Brioso, na estrada Cuiabá/Campo
Grande.
Conforme Melo, (1985) esta localidade deveria se situar a
sudeste da cidade de Rio Verde de Mato Grosso.
Já em 1943, Anibal A. Bastos e A. I. Erichsen comentaram
a ocorrência de afloramentos do Devoniano até 60 km ao sul de Herculânea (atual
Coxim), possivelmente constatado na já citada expedição Anibal A. Bastos, onde
L. Price coletou os primeiros fósseis no Devoniano do Mato Grosso do Sul
(Caster, 1947a; comunicação verbal de L. Price, vide Oliveira e Leonardos,
1978, p. 323, já referida na primeira edição de 1943).
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Fóssil encontrado em no município de Rio Verde de MT - Foto: Divulgação/UFMS |
No entanto, esta distribuição meridional até Rio Verde de
Mato Grosso só foi confirmada por Caster (1947), que citou a presença de
“spirifers”, em localidade situada na subida do Rio Verde para Campo Grande
(situado possivelmente entre os pontos MS24 e MS25 deste trabalho; fig. 11),
município de Rio Verde de Mato Grosso.
Este afloramento foi indicado no Mapa do RADAM-BRASIL como localidade fossilífera número 8 (Del’Arco et al., 1982). Sem citar outras localidades, Del’Arco et al. (1982) também comentaram que na folha SE. 21 são comuns intercalações subordinadas de folhelhos fossilíferos.
Esta extensão meridional da Formação Ponta Grossa teria
sido reconhecida pelo menos até os arredores do então povoado de Rio Verde, no
atual estado de Mato Grosso do Sul, fato também lembrado por K. E. Caster (nota
de rodapé em Caster e Mendes, 1952) que comentaram a presença de fósseis na
expedição de 1947.
Caster (1947) confirmou esta ampliação da distribuição
do Devoniano nos antigos limites geográficos do estado do Mato Grosso, e citou
uma nova fauna rica, que incluía elementos andinos, na área mais ao sul de
ocorrência das rochas do Devoniano, onde hoje é o estado do Mato Grosso do Sul,
provavelmente no Ribeirão dos Cavalos, como comentado acima.
Almeida (1948) também falou da coleta de Spirifer uma
légua a sudeste do povoado de Rio Verde, apresentando um mapa geológico onde a
“Série Paraná” (Grupo Campos Gerais/Chapada) se estenderia bem ao sul desta
localidade e um perfil geológico desta região, onde ocorre o “folhelho e
arenito Ponta Grossa”.
Boucot e Caster (1984) identificaram e descreveram os
braquiópodes Scaphiocoelia cf. S. boliviensis e Australocoelia?, ambos
encontrados por Caster, na expedição de 1947 na Serra da Boa Sentença,
município de Rio Verde de Mato Grosso, podendo demonstrar que existia na época
uma franca ligação marinha com a Bolívia, diretamente com esta ou via o
Paraguai. Carvalho et al. (1987) citaram as duas coletas realizadas em 1985 e
1986, dentro do âmbito da Expedição Orville Derby, patrocinada pelo Centro de
Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo A. Miguez de Mello (CENPES/PETROBRÀS):
“nos arredores da cidade de Rio Verde de Mato Grosso, MS, junto ao acostamento
do lado SW da BR-163 (Campo Grande – Cuiabá)
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Eusthenopteron, Diplacanthus, Acanthostega, Bothriolepis e Rhacophyton. Crédito: Karen Carr © The Field Museum |
Com a ajuda de martelos e pincéis, os estudantes descobriram fósseis e icnofósseis com milhões de anos sedimentados no paleoambiente, que indicam como foi a vida em Mato Grosso do Sul.
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Jazidas de argilas em MS contém fósseis de 400 milhões. (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax) |
Fonte: https://periodicos.ufpe.br/revistas/estudosgeologicos/article/viewFile/249378/37621