Homem é liberado da delegacia após denúncia de agressão e mata mulher a facadas horas depois
A Corregedoria da Polícia Civil do Rio Grande do Sul apura se houve falha ou omissão de uma delegada plantonista em um caso que terminou em feminicídio na madrugada do último sábado (12), em Uruguaiana. Kelly Lidiane Moreira, de 36 anos, foi morta a facadas poucas horas após ter ido à delegacia registrar queixa contra o companheiro, Guilherme Grisóstimo, de 35 anos, por agressões que vinha sofrendo. A notícia é do jornal O Globo.
Kelly só teve a coragem de falar à polícia porque a família, cansada de testemunhar a violência, insistiu. A Polícia Militar, acionada, conduziu o suspeito até a delegacia. Naquela noite, a delegada de sobreaviso Amanda Andrade, no entanto, entendeu que não havia indícios suficientes para representar pela prisão em flagrante de Guilherme e resolveu deixá-lo em liberdade. Além do inquérito naturalmente instaurado, a policial deu entrada na Justiça apenas com um pedido de Medida Protetiva de Urgência.
Poucas horas depois, o agressor, liberado, foi atrás da mulher e, em um ato derradeiro de violência, teria atacado-a com quatro golpes de faca na casa dela. A vítima morreu a caminho do hospital. Só então ele foi preso em flagrante pelo crime.
— Segundo a delegada, não havia elementos naquele momento para a autuação em flagrante. Já abrimos uma sindicância justamente para apurar a justificativa e, também, se foram passados a ela todos os fatos e circunstâncias — disse à reportagem a delegada regional Daniela Barbosa de Borba.
A delegada plantonista Amanda Andrade se justificou em nota. Ela reforçou que o homem foi detido após ter cometido o crime e que, antes disso, havia tomado as medidas “inicialmente cabíveis”.
“A respeito do fato ocorrido na madrugada de 12 de fevereiro último, a Polícia Civil esclarece que ratificou a prisão em flagrante e representou pela prisão preventiva do autor do feminicídio ocorrido em Uruguaiana. Esclarece que prontamente foram adotadas as medidas inicialmente cabíveis no momento da apresentação da ocorrência. Ressalta-se que, antes da ocorrência do crime, foram representadas pelas medidas protetivas de urgência cabíveis”, afirma a delegada.
“Esclarece-se que a vítima em princípio não queria ir à delegacia, tendo sido convencida por familiares a comparecer. Atendida na delegacia de polícia, inicialmente não queria fazer o registro na unidade policial, mas foi devidamente orientada a solicitar medida protetiva e a fazer o registro da ocorrência. Assim, com base nos elementos apresentados à autoridade policial no momento da lavratura da ocorrência, a medida cabível era o encaminhamento à Justiça de pedido de Medida Protetiva de Urgência, o que foi feito ainda na madrugada do dia 12”, acrescenta Amanda.
“A Polícia Civil, em sua esfera, adotou de pronto as medidas investigativas preliminares, porém, infelizmente, fatos que não estavam dentro do domínio da Polícia Civil culminaram na morte da vítima. Foi representado ao Poder Judiciário pela conversão da prisão em flagrante em preventiva, devendo tal pedido ser apreciado nas próximas horas. Reitera-se o compromisso da Polícia Civil com a aplicação da lei penal, objetivando a devida responsabilização do autor pelos fatos ocorridos”, conclui.
Nas redes sociais, Guilherme publicava fotos onde se declarava para Kelly. “Você completa a minha vida, enche o meu coração de alegria e será para sempre o meu eterno amor. Meu amor, você está em meus pensamentos do momento que acordo até a hora que eu vou dormir. Estar ao seu lado é a minha maior felicidade. Eu te amo incondicionalmente, meu amor”, escreveu em publicação de setembro do ano passado.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023