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domingo, 6 de janeiro de 2019
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS

De Aquidauana para a Europa, ex-goleiro vira dono de clube em Portugal


De ex-goleiro das categorias de base do Operário de Campo Grande na década de 1980 ao sucesso como empresário e dirigente no futebol português. A trajetória do sul-mato-grossense de Aquidauana, Luiz Carlos Stefan de Andrade, de 49 anos, atual proprietário do União Desportiva Vilafranquense, clube da Terceira Liga de Portugal, equivalente a Série C no futebol brasileiro, mostra uma realidade diferente da nossa condição de país gerador e exportador de jogadores para a Europa.
Por enquanto, a presença de brasileiros no posto de proprietário de clubes europeus nem se compara aos números referentes ao êxodo de nossos craques, mas sinaliza para uma tendência de mercado no futebol. De que se tem notícias, Luiz Andrade, como ele é conhecido pelos portugueses, no Vilafranquense, de Vila Franca de Xira, cidade localizada a 36 km de Lisboa, e Ronaldo Fenômeno, no Real Valladolid, de Valladolid, distante 195 km de Madrid, na Espanha, estão entre os pioneiros, e ambos desembarcaram na Europa como jogadores. Antes deles, em Portugal, só Theodoro Fonseca, empresário do atacante Hulk, que em 2013 comprou o Portimonense, de Portimão, e subiu com o clube da segunda para a primeira divisão.
A razão dessa iniciativa empreendedora está nas facilidades burocráticas e no alto grau de confiança para se investir em clubes europeus. Ao contrário do Brasil, onde os clubes não funcionam pelo modelo de sociedades anônimas, exceção do Figueirense, de Santa Catarina, em Portugal os clubes de qualquer divisão profissional têm obrigatoriamente de optar por um modelo de gestão, se SAD (Sociedade Esportiva Anônima) ou SDUQ (Sociedade Esportiva Unipessoal por Cotas).
O modelo SAD, que é o adotado pelo Vilafranquense do aquidauanense Luiz Andrade, permite uma nova alternativa de receita para o clube a partir da autorização para a entrada de capital estrangeiro, por exemplo. Já o modelo SDUQ tem a vocação de preservar a identidade dos clubes, por conta disso é mais restritivo quanto a entrada de capital e separa a parte social do futebol.
Luiz Andrade com a filha Bárbara, de 25 anos, e o filho mais novo Micael, de 13 anos (Foto: Arquivo pessoal)Luiz Andrade com a filha Bárbara, de 25 anos, e o filho mais novo Micael, de 13 anos (Foto: Arquivo pessoal)
O SONHO PORTUGUÊS - Passados 31 anos desde que desembarcou no Aeroporto da Portela, em Lisboa, em 1987, aos 18 anos de idade, disposto a se aventurar a procura de um clube para jogar, e com apenas 100 dólares no bolso, Luiz Andrade fala de Portugal com sentimento de gratidão e patriotismo.
“Portugal é a minha casa. Minha vida está toda focada em Portugal. Aqui ganhei a minha família, minha esposa (a romena Ionela Stefan Andrade) e os meus três filhos, aqui estão os meus negócios. É a minha terra, o país que me acolheu, é onde aprendi a viver, ganhar dinheiro. Infelizmente não tenho mais meu pai e minha mãe, então toda a minha família está aqui. Posso até fazer um trabalho aqui ou ali, mas sempre com vinculo em Portugal”, disse Luiz Andrade.
Nos tempos de goleiro do Operário, Luiz Andrade era conhecido por Kojak, apelido que ganhou ainda criança na Escola Municipal Professor Arlindo Lima, em Campo Grande, após ter a cabeça raspada pelo pai quando o grande sucesso de audiência no horário nobre da televisão no Brasil era o seriado americano “Kojak”, estrelado pelo ator Telly Savalas no papel de um detetive careca que chupava pirulitos.
“Pedi dinheiro ao meu pai para cortar o cabelo e eu quis fazer um corte que estava na moda entre os jogadores no Brasil, cabelo cumprido, elegante. Cheguei em casa e meu pai, que era uma pessoa sistemática, rígida, brigou comigo e disse que o dinheiro dele não era para brincar, que se eu quisesse um corte moderno que fizesse com o meu dinheiro e cortou meu cabelo com gilete. Fiquei completamente careca e aí eu passei a ser o Kojak. Em Portugal o apelido não chegou, o Kojak ficou só no Mato Grosso do Sul. Aqui só me chamam de Luiz Andrade, mas aquilo me marcou e foi um grande aprendizado porque com a frase do meu pai eu aprendi a dar valor ao dinheiro”, recordou.
No Brasil, o goleiro Kojak só jogou no Operário de Campo Grande, e assim mesmo apenas nas categorias de base. “Foi onde tive a minha formação de base e sai muito cedo. Na época recebi uma proposta de transferência para a Ponte Preta de Campinas, eu queria ir, mas a diretoria do Operário não me liberou, então ganhei meu passe na Justiça e acabei vindo para Portugal”, comentou ele.
Luiz Andrade (ao centro) com os irmãos Liminha e Lima em encontro do mês de agosto deste ano em Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)Luiz Andrade (ao centro) com os irmãos Liminha e Lima em encontro do mês de agosto deste ano em Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)
LIMA, UM FELIZ ACASO - Como em todas as histórias de meninos pobres que saem de casa em busca da realização do seu sonho, Luiz Andrade conta que no seu caminho não faltaram dificuldades até ganhar o que chama de estatura para se sentir realizado na Europa.
Suas conquistas não são obras do acaso, exigiram que corresse atrás delas, mas ele garante que o apoio recebido do também sul-mato-grossense Lima, na época atacante do Sporting Lisboa e Benfica, após uma situação casual, algo que acontece sem intenção prévia, foi fundamental justamente quando mais precisava de ajuda, ou seja, na sua chegada em Portugal.
“No dia do embarque no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, por acaso encontrei o Liminha, irmão do Lima, que já era famoso no Brasil e no futebol português, mas eu ainda não o conhecia pessoalmente. O Liminha era meu amigo, havia jogado com ele no Operário, e ao me ver perguntou para onde eu estava indo. Respondi que estava indo para Portugal e ele disse: Eu também. Acabamos viajando no mesmo avião, na viagem contei que estava indo me aventurar a procura de um clube para jogar, e chegando em Lisboa ele me convidou para ficar na casa do Lima que me aceitou muito bem e me ajudou. Foi assim que tudo começou”, lembrou Luiz Andrade.
Segundo ele, diferente do que possa parecer, sua decisão de trocar Mato Grosso do Sul e o Brasil por Portugal não foi por causa do atacante Lima, e o fato de ter ido morar na casa do famoso jogador do Benfica foi uma grande coincidência na sua história.
“Graças ao Liminha e ao Lima eu tive a oportunidade de começar a minha vida em Portugal. Fiquei um ano e meio na casa deles e com os contatos do Lima consegui chegar até o Sporting e assinar contrato para jogar nos Juniores. Um mês depois fui emprestado, o que é normal porque só era permitido um estrangeiro nas categorias de base de cada clube, e o Sporting já tinha um estrangeiro. Fui para o Sintrense, de Sintra, que disputava a terceira divisão, fomos campeões, subimos para a segunda divisão, e até hoje sou o primeiro estrangeiro da história do Sintrense que é um clube de mais de 100 anos. O Liminha e o Lima me deram a oportunidade que ninguém havia me dado na vida e serei eternamente grato a eles”, frisou.
PORTUGAL E CHINA - Luiz Andrade jogou por três temporadas consecutivas em Portugal, sempre em equipes da segunda divisão e terceira divisão, nunca da primeira divisão. Depois do Sintrense, passou pelo Lusitano, Leões de Tavira, Sport Lisboa e Cartaxo, e se transferiu para o futebol chinês, onde jogou por quase sete anos.
“Na China consegui ganhar algum dinheiro, cresci financeiramente, o que não tinha sido possível em Portugal. Quando voltei para Portugal continuei jogando em equipes da segunda liga até que as lesões começaram a surgir e tive que encerrar a carreira de jogador. Parei muito cedo por lesões de joelho”, destacou.
Ao encerrar a carreira de jogador, Luiz Andrade continuou em Portugal e foi trabalhar na área de vendas de uma empresa alemã, onde permaneceu por 5 anos, e considera que o trabalho de vendedor valeu como um curso de formação profissional. “Eu vendia aspirador de pó de porta em porta e aprendi muito nessa empresa. Aprendi a lidar com marketing, a importância da imagem e da performance profissional, enfim, foi a maior escola que eu tive até hoje”, ressaltou o ex-goleiro.
Após a experiência na empresa alemã, ele retornou ao futebol como empresário de jogadores de futebol. Por ter jogado na China tinha muitos contatos, e não demorou para começar a fazer negócios com os chineses.
“Fiquei nessa atividade durante 10 anos, levando jogadores para a China, ganhei muita credibilidade com os chineses e também muito dinheiro, depois passei a fazer o sentido contrário, ou seja, trazer jogadores chineses para Portugal. Fui o primeiro empresário de futebol a trazer jogador chinês para Portugal. Antes não havia jogador chinês atuando na Europa, hoje há muitos, só em Portugal tem 250 jogadores chineses, e eu iniciei essa ligação”, declarou.
A festa no Desportivo das Aves pela conquista da Taça de Portugal, a Copa do Brasil dos portugueses (Foto: Manoel Barreiras) A festa no Desportivo das Aves pela conquista da Taça de Portugal, a Copa do Brasil dos portugueses (Foto: Manoel Barreiras)
O Estádio do Jamor, em Oeiras, completamente lotado no dia da final da Taça de Portugal diante do Sporting (Foto: Manoel Barreiras)O Estádio do Jamor, em Oeiras, completamente lotado no dia da final da Taça de Portugal diante do Sporting (Foto: Manoel Barreiras)
VIDA DE DIRIGENTE - Quando decidiu parar de empresariar jogadores, por considerar que o setor já estava ficando pequeno para seus objetivos no futebol, concluiu que deveria investir no seu próprio clube. Sua primeira experiência foi no Sporting Clube Farense, da cidade de Faro, distante 278 km de Lisboa, que em 2010 subiu da terceira para a segunda divisão justamente no ano em que o clube comemorava 100 anos de fundação.
“Comecei investindo meu dinheiro no Farense, mas não comprei o clube, e fiz com que subisse para a segunda divisão. Quando subiu eu quis comprar o clube, mas a diretoria não quis me vender, talvez porque não precisasse mais de mim”, lembrou ele.
Presença constante no noticiário esportivo português, o dirigente Luiz Andrade vem se especializando no comando de clubes que lutam nas divisões de acesso em Portugal. Como não conseguiu comprar o Farense, se associou a um empresário chinês, o mesmo com quem negociava transferências de jogadores, e comprou o Desportivo das Aves, de Vila das Aves, situada a 347 km de Lisboa.
“Pegamos o Desportivo Aves na terceira divisão, subimos para a segunda divisão, depois para a primeira divisão e fomos campeões da Taça de Portugal, tudo isso simultaneamente no mesmo ano. Houve um crescimento e o reconhecimento do nosso trabalho no país todo, inclusive fui chamado na Alemanha para falar sobre o que havia possibilitado a um time vindo da terceira divisão ser campeão da Taça de Portugal diante de um clube grande como o Sporting”, diz ele com orgulho. Na final da Taça de Portugal (a Copa do Brasil dos portugueses), o Aves venceu o Sporting, clube tradicional da Primeira Divisão por 2 a 1, dia 20 de maio de 2018, no Estádio do Jamor, em Oeiras).
PROJETO VILAFRANQUENSE - O sucesso no Desportivo Aves gerou grande expectativa sobre o futuro do clube na mais importante divisão do futebol português na temporada 2018/2019, mas também fez surgir novas oportunidades de negócios. Assim, Luiz Andrade decidiu vender 90% da sua parte no Aves aos chineses e já no mês de setembro deste ano comprou 100% da SAD do Vilafranquense.
“Tenho planos de repetir aqui o mesmo sucesso do Aves. Trouxe a mesma equipe, as mesmas pessoas que trabalhavam comigo no Aves, peguei o clube na oitava posição no campeonato da terceira liga, agora já estamos em primeiro e a tendência é a gente evoluir cada vez mais. O nosso projeto é subir já este ano para a segunda liga, depois lutar para subir para a primeira divisão”, acredita.
Nos seus planos para o Vilafranquense estão a construção de um estádio novo, um centro de treinamento, melhorar a infraestrutura do clube e ampliar os investimentos na criação de uma base forte para revelar jogadores. “Vamos trabalhar muito na formação. Temos 460 jogadores nas nossas categorias de base e queremos que a base ajude a fazer com que o clube cresça”, ressaltou.
Luiz Andrade (à direita) na homenagem que recebeu na festa pelos 80 anos de fundação do Operário, seu único clube no Brasil, em agosto deste ano (Foto: Arquivo pessoal)Luiz Andrade (à direita) na homenagem que recebeu na festa pelos 80 anos de fundação do Operário, seu único clube no Brasil, em agosto deste ano (Foto: Arquivo pessoal)
NO OPERÁRIO DE CAMPO GRANDE - Com experiência de gestão e capacidade de investimento, condições já comprovadas ao fazer clubes subirem de divisões no futebol português, o sul-mato-grossense Luiz Andrade é tudo que clubes de Mato Grosso do Sul, como Operário e Comercial, precisam para tentar sair da incomoda fila da quarta divisão do futebol brasileiro que já dura 32 anos.
Mas ele descarta, pelo menos por enquanto. “Gosto do Brasil, vou sempre ao Brasil quando posso, mas não penso sair de Portugal. Se eu fosse ter qualquer coisa no Brasil com certeza seria com o Operário porque foi o clube onde fiz a minha formação, gosto do clube, me sinto um operariano. Se algum dia eu mudar de opinião por qualquer motivo que seja com certeza seria no Operário onde eu gostaria de fazer o trabalho que eu faço em Portugal”, afirmou.
Em agosto deste ano, quando o Operário fez 80 anos de fundação, Luiz Andrade foi um dos homenageados e chegou a fazer uma oferta de R$ 2 milhões/ano em um projeto que previa a ascensão do clube para a Série B do Campeonato Brasileiro em três ou quatro anos. Diante da decisão da diretoria em fechar com um projeto comandado pelo seu ex-jogador Rodrigo Gral, não houve acordo.
De palpável no momento, fora de Portugal, apenas uma oportunidade de fechar negócio com um clube da primeira divisão da Escócia, ainda em nível de avaliações e ponderações de viabilidade.
“Estamos ponderando, vendo se realmente há possibilidade de fechar negócio, se há como realizar um trabalho tão grande na Escócia como o que fazemos em Portugal, mas só vamos avançar se a avaliação for de que temos capacidade para tanto. O foco total agora é em Portugal para fazer o Vilafranquense chegar na primeira liga”, sentenciou.
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