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terça-feira, 12 de novembro de 2013
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS

Por que as pessoas compram discos de vinil?


O hoje nos espanta?
Já vimos e ouvimos de tudo nesta vida. Se amanhã um disco voador aparecer nos céus da cidade, não ficaremos tão espantados quanto esperávamos. Já vimos discos voadores o suficiente no cinema.
Violência braba já não nos comove também. A expressão “crime bárbaro” já não quer dizer muita coisa nas manchetes.
Adjetivos precisam ser gritados se quiserem causar impacto. O disco do Caetano não pode se chamar “Abraço”, tem que se chamar “Abraçaço”.
Hoje qualquer coisa é maravilhosa, incrível, genial.
Qualquer coisa é terrível, horrorosa.
Hoje, sinistro e bizarro são gírias.
Quando muito se tem, perde-se o gosto do objeto. Acostuma-se.
Sonha-se em comprar um apartamento de frente para o mar e dois anos depois enjoa-se da vista.
Todos os dias, aquela vista toda ali, disponível, sem que seja preciso fazer esforço, de graça.
Marilyn Monroe, aos 30 anos, podia ter todo o homem e mulher que quisesse. Casou com o Arthur Miller, intelectual 11 anos mais velho, 11 vezes mais feio que James Dean.
E se daqui a 11 anos alguém inventar o carro que voa, não ficaremos espantados. Faremos é fila nas concessionárias.
Quando inventarem o carro que voa, de tão acostumados com a ideia, afinal crescemos vendo os Jetsons, chamaremos o invento apenas de “carro”. O último “carro que voa”, o último espanto, foi inventado no final do século XIX. Era um negócio chamado toca-discos.
Um disco continha algo gravado. Um discurso, uma canção, uma ópera.
Mas algo gravado antes em algum lugar que não era ali, a sala de estar onde agora escutava-se o conteúdo.
Até então, ou nos 200 mil anos anteriores, quando se queria ouvir uma ópera, tinha-se que ir até o teatro, sentar-se a alguns metros dos músicos, tirar a cera dos ouvidos.
Com a invenção do disco, uma orquestra inteira tocava ali, na sala de estar. Na hora que bem se entendesse. Quantas vezes se quisesse.
Esse foi o último espanto, o último e verdadeiro susto que tomamos.
No último domingo aconteceu a VII feira de Discos de Vinil do Rio de Janeiro. Vendedores do Rio e de São Paulo reunidos, quase 30 mil álbuns à venda.Muita gente de 17, 20 anos comprando suas primeiras bolachas.
Duas mil pessoas passaram pelas dependências do Instituto Bennett, no Flamengo, onde aconteceu o evento, duas vezes maior do que o do ano passado.
Ao contrário do que se costuma dizer, estas 2.000 pessoas não estavam lá por nostalgia ou por conta da qualidade de som do vinil.
Embora, quando se ouve um disco, ouve-se com atenção genuína, porque é algo que nos deu trabalho ter, que é algo que nós dá trabalho manter, que precisamos levantar-nos para trocar o lado B para o Lado A etc. E conseguir atenção genuína de alguém, hoje, é ouro.
Ao contrário do que se costuma dizer, estas 2.000 pessoas não estavam lá por causa da história da arte e do design do século XX exibidas nas voluptuosas capas de discos, enormes num mundo onde quanto menor e mais portátil o objeto, mais valor e utilidade ele tem.
Embora os álbuns sejam uma óbvia, porém, ainda útil metáfora da vida, dividida em lado A e lado B. Metáfora ainda mais útil se pensar que a vida é nem um lado nem outro, não é a parte que se pode tocar com a agulha do toca-discos, e sim o fino recheio espremido entre um um lado e outro. Coloque um disco de lado, observe a fina espessura dele. Estará contemplando a vida.
Mas não, estas 2.000 pessoas não estavam atrás de nada disso.
Estavam atrás de algo ainda mais maravilhoso, incrível, genial, terrível, horroroso, sinistro e bizarro.
Estavam todos é atrás do espanto perdido.
Foto: Dodô Azevedo
terça-feira, 12 de novembro de 2013

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