terça-feira, 29 de janeiro de 2013
RIOVERDEMS | Por PORTAL RIOVERDE NOTICIAS
Arquiteto admite afundamento em setor da obra do Aquário do Pantanal, governo nega
midiamax,Pio Redondo
Um forte ‘boato’ sobre problemas relacionados a um suposto ‘afundamento’ de 15 a 30 cm nas fundações das obras do Aquário do Pantanal circula entre profissionais de arquitetura e engenharia civil, em Campo Grande, e por este via chegou à redação deMidiamax.
O ‘boato’ coincidiu com a incorporação de um aditivo de R$ 20 milhões ao custo das obras,que já era elevado - R$ 84,7 milhões. O gasto com a construção do aquário subiu para mais de R$ 104 milhões.
Como boato não é fato, e fato não é boato, a reportagem procurou todas as instâncias possíveis em busca de fontes que pudessem esclarecer o suposto afundamento. O primeiro entrevistado foi o arquiteto Ruy Ohtake, que estava em visita de dois dias às obras do Aquário. Mas depois de uma entrevista rápida e controversa, as dúvidas persistiram.
Ohtake admitiu que houve um afundamento em área de aterro, um “platô”, que qualificou como “uma coisa sem importância”. Aterros nada têm a ver com as fundações, que estão cravadas muitos metros abaixo do solo e sustentam toda a estrutura de uma edificação.
Na entrevista, Ohtake respondeu, positivamente, perguntas sobre o afundamento nas fundações, mas depois voltou a negar o fato, por duas vezes. Portanto, a intepretação da sua fala seria subjetiva, e não técnica. O arquiteto também confirmou que pode haver um atraso de dois meses nas obras.
Reportagem – Disseram que era um pequeno afundamento ali, na plataforma, na fundação, alguma coisa assim?
Ruy Ohtake: - Eu tenho a impressão que é uma coisa sem muita importância. O que eu sei é que nas laterais, aqueles terrenos, teve um pequeno aterro, ali, para deixar a área onde vai se instalar o Pantanal num plano, num platô, e com essas chuvas, sempre já uma...é um aterro ainda não consolidado, há um desnível do terreno sem maior importância”.
Reportagem: - Mas do ponto de vista da engenharia, essa coisa de que houve um afundamento nas fundações...
Ruy Ohtake: - Não, não é nada relevante.
Reportagem: - Mas ocorreu isso?
Ruy Ohtake: - Ocorre em qualquer obra, pequenas acomodações, e no verão, maior calor, então a água...uns movimentos que...construção é uma coisa viva, então o concreto dilata, ligeiramente encolhe, então são movimentos”.
Reportagem: - E como se corrige?
Ruy Ohtake: - Não, não é correção, a gente não pode é brigar com o concreto, tem que fazer o concreto acompanhar.
Reportagem: - O que seria acompanhar?
Ruy Ohtake: - Não tem que fazer, por exemplo, uma fundação rígida.
Reportagem: - Considerando uma característica geológica do terreno.
Ruy Ohtake: - Não é geológica. Foi do aterro, com as chuvas, né.
Reportagem: - E isso não influi em nada na estabilidade da obra, nem vai exigir a demanda de mais capital para recuperar nada?
Ruy Ohtake: - Ah..é...o gasto…é isso aí...
Reportagem: - É que chegou uma informação de afundamento nas fundações.
Ruy Ohtake: - Não houve problema nenhum. Não houve. Houve na terra, não é na fundação, no terreno que foi o aterro pra fazer o platô...
Reportagem: - Isso significa atraso nas obras?
Ruy Ohtake: - Eu acho que 90 por cento do Brasil sofrem atrasos, então a obra estava programada para, se não me engano 28 meses, pode sofrer atraso de dois meses. Mas o importante é o Aquário do Pantanal, que vai ser um grande ponto pra região. Não podemos perder o foco, a importância cultural, de representar de uma forma significativa o nosso Pantanal.
Reportagem:- É que a informação que chegou até a gente é que tinha um problema de afundamento das fundações, então só viemos até aqui para esclarecer.
Ruy Ohtake: – Não houve afundamento nenhum. É na terra, não é na fundação.
Como não se pode interpretar, subjetivamente, a fala de Ohtake, a reportagem solicitou mais esclarecimentos para a empreiteira Egelte, responsável pela obra, e à Agesul, que faz a fiscalização por parte do governo estadual.
Empreiteira e Agesul não dão esclarecimentos e governo desmente Ohtake
A reportagem solicitou à direção da Egelte uma entrevista no próprio local das obras, para obter informações técnicas sobre aquilo que Ruy Ohtake que falou. A resposta foi negativa.
A empreiteira recomendou que a reportagem procurasse na Agesul, mas ali também não houve retorno à solicitação de entrevista.
Quem falou em nome do governo estadual foi Guilherme Filho, o secretário de Comunicação. Ele negou com veemência a informação de Ruy Ohtake. O secretário também afirmou que o aditivo de R$ 20 milhões não tem qualquer relação com supostos problemas na obra.
“Não houve isso, não houve, isso não houve! Afundamento no aterro do aquário, não houve, eu garanto, não houve. Não existe nenhuma alteração significativa, não há majoração, aditivo por conta de...nada disso. O aquário corre normal, dentro do previsto, não tem nenhum problema estrutural, a obra corre normal” garante o secretário.
“Se tem algum problema de execução, se houver, se houvesse, do ponto de vista de, sei lá, ter que refazer alguma coisa, a empresa refaz. Não tem nenhum afundamento, essa coisa de aterro, não teve. O aquário corre normal, dentro do cronograma, nenhum problema estrutural, nenhum problema de obra, nenhum atraso e mudanças que existem são os aditivos normais previstos em lei”, concluiu.
Arquiteto de Campo Grande quer auditoria nas obras
Para o arquiteto Celso Costa, de Campo Grande, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo federal (CAU), o caso ainda não está esclarecido.Costa é especializado em projetos de construção de hospitais, como a Santa Casa, e edifícios com mais de 12 pavimentos no centro da cidade.
Depois de relatar que também soubera do ‘boato’, ainda no final do ano passado, o arquiteto ouviu a entrevista de Ohtake, e analisou as fotografias da obra que constam no site da Egelte.
Pelas imagens, nota-se que o aterro, ou platô, cobre toda a superfície onde está sendo construído o Aquário, e não só as parte laterais.
Sobre a fala de Ohtake, Celso Costa foi categórico:
- Ele não explicou nada. Aterro não segura nada, são as fundações. Aterro tem que ser bem compactado. E tudo tem que ser previsto no projeto, o clima, a época das chuvas, para evitar impacto imprevisto no curso das obras. A impressão que eu tive é que ele está acobertando alguma coisa, porque não teve nenhuma resposta que foi técnica. O afundamento não é normal. O afundamento que me disseram foi de trinta centímetros, não sei, mas ele admite um afundamento. Mas não pode afundar nada”.
Por isso, Costa garante que vai pedir uma auditoria nas obras.
“Já estamos tratando da necessidade de uma auditoria, para verificar o que ocorreu de fato. Tecnicamente. Uma auditoria que vai envolver o Conselho de Arquitetura, os arquitetos e urbanistas, vai envolver o Conselho Regional de Engenharia, o CREA e, provavelmente, o Ministério Público também. Para que se possa verificar a verdade do fato, e não de boatos”, garante Costa.
Referindo-se ao aditivo de R$ 20 milhões, o arquiteto afirmou que “se esse dinheiro é público, se essa obra estiver sofrendo alguma coisa, com uma diferença muito cara, nós precisamos saber o que aconteceu. Se esse acréscimo foi em função de quê...é simples, não tem o que esconder nada”, asseverou.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013









