PM ocupa por tempo indeterminado dois morros perto do Complexo do Alemão
RIO - Depois da terceira noite de confrontos no Complexo do Alemão, a
Polícia Militar decidiu ocupar, por tempo indeterminado, dois morros na
região: os da Baiana e do Adeus. Cerca de 50 homens dos batalhões de
Olaria e da Maré estão nas comunidades e, se for necessário, a
quantidade de policiais pode aumentar. O Batalhão de Campanha também
continua apoiando o trabalho da Força de Pacificação, comandada pelo
Exército, que está presente no Complexo do Alemão desde novembro
passado.
"A medida de ocupar o Adeus e a Baiana acontece em razão de não ter
tropas federais lá, e serem ambos locais com comandamento - ou seja,
visão de cima para baixo - portanto, facilitadores de agressão (tiro,
arremesso de objetos etc.) contra as tropas que patrulham a Avenida
Itararé", diz trecho da nota assinada pelo comandante-geral da PM,
coronel Mário Sérgio Duarte.
Nesta manhã, militares que ocupam o complexo recolheram na Rua Nova -
um dos acessos à Favela da Grota - uma bomba de fabricação caseira que
não havia sido detonada. De acordo com os agentes, o artefato foi jogado
contra eles na noite de terça-feira, em que houve intenso tiroteio no
Alemão. Militares da Força de Pacificação interromperam o tráfego de
veículos na Estrada do Itararé, na altura da Avenida Itaoca. O clima foi
de tensão durante toda a noite na sede da tropa na base do morro.
Depois do tiroteio de ontem, o deputado estadual Marcelo Freixo
(PSOL) - integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa - foi nesta quarta-feira ao Complexo do Alemão para
conversar com moradores sobre os problemas entre a comunidade e os
soldados do Exército. Segundo ele, a presença dos militares não
justifica a ausência do estado em ações como postos médicos e outras
ações sociais.
- O Exército está atuando como força de polícia. Quero saber o
que vai ser feito após a saída do Exército, que ações estão previstas
para este local - afirmou Freixo, que pretende convocar uma audiência
pública para cobrar responsabilidades do estado.
Técnicos da SuperVia, que administra o teleférico do Alemão,
também começaram a fazer uma inspeção rigorosa no sistema de transporte
da comunidade, para verificar se não houve danos causados pelos tiros.
Por volta das 21h20m desta terça-feira, dois veículos blindados
do Exército e diversos carros da PM entraram na comunidade para reforçar
a ocupação. Um "caveirão" do Batalhão de Operações Especiais (Bope)
também chegou ao local. Balas traçantes foram vistas da parte baixa da
favela. Segundo policiais de plantão no Hospital Getúlio Vargas, na
Penha, um homem identificado apenas como Luiz, de 47 anos, foi atingido
na cabeça por estilhaços de granada quando estava na Avenida Itaoca, na
noite desta terça-feira.
Em nota, a Secretaria de Segurança diz que a reação dos
criminosos foi motivada pelo fechamento de uma revenda clandestina de
gás que pertenceria ao irmão do traficante Marcinho VP, no Alemão. Outra
informação que também teria irritado os traficantes foi a decisão de
ampliar o tempo de permanência do Exército no Complexo do Alemão.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011